28/11/2014

Tudo começou com as pitangas!

        Ricardo Sarmiento, meu amigo argentino, postou em sua página no Faceboock (acessível pelo nome Ric Sar) um prato cheio de belas e saborosas pitangas e agradecendo-me por tê-lo apresentado à fruta numa visita que fizemos a uma das praias de Florianópolis há uns oito anos atrás. Eu estava veraneando na ilha e ele apareceu por lá com sua família. Foi um encontro memorável, tanto para nós, eu, minha mulher e meus quatro filhos, quanto para eles, presumo.
        Leitores da página de Sarmiento no Face, a concluir pelos comentários postados, gostaram do prato das frutinhas e informaram que a pitanga, em Guarani, chama-se ñangapiry. As duas famílias circularam por Florianópolis e os argentinos ficaram deslumbrados com a paisagem, formada por praias paradisíacas. Mas para minha surpresa nada deixou- os mais admirados que a biodiversidade típica brasileira, incluído o pé das pitangas que eu os encorajei a comer e levar as sementes para casa com o conselho: “Plantem em qualquer pedacinho de terra e pronto, daqui um ano terão pitangas em casa”. Descubro agora, pelo Face, que Sarmiento seguiu à risca meu conselho e hoje  tem pitangas em seu quintal em Buenos Aires.
        Quem, como eu, circulou de carro pelo interior argentino ainda pode descobrir o quando é rica a biodiversidade típica brasileira e o quanto é pobre, digamos assim, a da Argentina. Não é por acaso que a família Sarmiento ficava simplesmente embasbacada quando se via em frente a um minúsculo capão de Mata Atlântica. É bem isso aí hoje em dia: um minúsculo capão, o máximo de uma floresta que já foi exuberante que, depois de uma devastação vergonhosa, conseguimos exibir a quem nos visita.
        Por que será que nunca demos valor à nossa esplendorosa biodiversidade e a destruímos impiedosamente? É algo que veio junto com a colonização portuguesa e ficou. A primeira destruição intensiva ocorreu com o pau-brasil. Tenho um exemplar dessa árvore no quintal de casa. Ganhei a muda no desembarque de um voo doméstico da TAM. Plantei dias depois e ela veio exuberante. Da porta-janela do meu quarto, em Vinhedo, onde hoje passo muitas horas por dia, vejo-a integralmente- ela e seu frescor de árvore nativa. Não sabia que ela dá flores, pois qual não foi minha surpresa quando, ainda outro dia, encontro-a amarela, florida dos pés à cabeça.
        Quando Sarmiento vier à minha casa novamente – o que não deve demorar – espero poder presenteá-lo desta vez com uma muda de Pau-Brasil. Tenho certeza que ele e sua família vão amar.


 Conocí la Pitanga en la casa familiar de mi amigo Dirceu Pio, en Vinhedos, Estado de Sao Paulo, Brasil y tengo hoy una planta en mi casa en Buenos Aires...Un fruto delicioso...





26/11/2014

Não são apenas boatos!

        Os políticos convivem mal com a crítica. Volta e meia ouvem-se boatos de que eles pressionaram para desalojar este ou aquele jornalista desta ou daquela mídia para neutralizar arestas, tornando jornais, revistas, canais de TV mais dóceis. São percalços que a democracia não consegue ultrapassar. Quanto mais a mídia enfraquece, mais eles sobem nela e imaginem o que irá acontecer daqui a uns poucos anos, quando não existirem mais mídias fortes.
        Agora mesmo ecoam pelo país versões de que o partido governista conseguiu desalojar de um grande jornal paulista uma colunista da política que nunca foi muito amável com ele. Boatos, boatos, ninguém sabe a verdade, exceto os donos do jornal e a liderança partidária que exigiu a cabeça do jornalista, se é que a especulação tem procedência.
        Num passado recente, esse tipo de pressão perdeu todo tipo de sutileza e os boatos transformaram-se em evidências, como aconteceu, por exemplo, no início do mandato de Fernando Collor de Melo. Collor saíra da campanha que o elegeu presidente com sangue na boca.    Os primeiros a “dançar” foram os comandantes do jornalismo da TV Globo, Alice Maria e Armando Nogueira. Razão: ofereceram resistência a por no ar uma edição “arranjada” do debate entre Collor e Lula.
        Pelas pesquisas, superando a expectativa de Lula, que minimizou a influência do debate e não se preparou para ele como deveria se preparar, a TV começou a virar o jogo, colocando Collor em ascensão. Lula perdeu feio o debate, mas, como sempre ocorre, ficara ainda a controvérsia. Era preciso demonstrar a vitória de Collor de um modo definitivo e contundente. Foi preparada uma edição que mostrava a supremacia de Collor com todas as letras. Aí entram em cena Armando Nogueira e Alice Maria, tentando barrar a exibição. A resistência tornou-se pública. Collor ficou atrás do toco, esperou a eleição passar, venceu, tomou posse e atirou.
        Armando Nogueira foi substituído por Alberico Souza Cruz. O episódio trouxe várias lições a tiracolo e a principal delas foi para a própria Globo. Antes de assumir o mais alto posto do jornalismo da emissora líder de audiência, Alberico era um “ilustre desconhecido” no meio televisivo. O jornalista a quem ele substituiu, ao contrário, era experiente, capaz de exercer sobre o jornalismo da emissora um invejável controle de qualidade, controle que até hoje, há anos após a morte de Armando Nogueira, ainda faz muita falta à Globo.
        Foi sob o comando de Alberico que a Globo deu cobertura ao escandaloso episódio da Escola de Base, um envolvimento que tirou credibilidade da emissora e encheu de vergonha o jornalismo brasileiro. Crianças de uma pré-escola começaram a acusar professores e donos de abuso sexual. As denúncias eram respaldadas por um delegado de 5ª categoria, até que se descobriu que era tudo invenção das crianças. A escola teve de ser fechada e a imagem dos professores até hoje não se recompôs. O povo havia rifado Collor de um lado e a Globo livrou-se de Alberico quase em seguida.
        Alberico cometeu também, por exigência de Collor, uma outra atrocidade contra o jornalismo: tirou de Nova York Lucas Mendes, seu melhor correspondente no exterior. Razão: Lucas, numa entrevista à Isto É, na época comandada por Mino Carta,  chamou o candidato do então PRN, partido inventado pelo próprio Collor, de “jagunço yuppie”.
        Se os boatos de hoje em dia se confirmarem, estaremos penetrando numa época sinistra para o jornalismo e a liberdade de imprensa. De um lado teremos partidos políticos “cavalgando” as mídias, e de outro jornalistas “militantes” de um partido, os únicos a sobreviver.


(Alice Maria e Armando Nogueira)

23/11/2014

O bico doce dos tucanos

       A apuração nem havia terminado e lá estava, em Brasília, o poderoso governador do estado mais rico da federação a beijar a mão  da presidente reeleita e a pedir verba para obras de reserva de água. Na verdade, Geraldo Alckmin apressava-se em propor passarem uma borracha sobre “desentendimentos” eventuais da campanha. Foi super bem recebido por Dilma Rousseff e pediu  mais de 2 bilhões para ampliação do sistema Cantareira e outras coisitas mais. Ao que tudo indica pelo menos dois bilhões ele deve levar.
       Eu também, se político fosse, amaria contar com uma oposição à moda tucano - bico grande, vistoso, mas dócil como o focinho de um gatinho angorá. Vai para 16 anos que o PT chegou ao poder dos quais 12 anos estão quase conclusos e até agora foi uma delícia governar.
       O gesto de Alckmin não pareceu isolado; pareceu coisa orquestrada. FHC, que se orgulha de já ter a guilhotina preparada para decepar a cabeça de Lula, poupado daquela vez, por envolvimento no Mensalão, em nome da “governabilidade”, agora quer proteger Dilma fazendo a idéia do “impeachment” passar longe do Planalto assim como o diabo passa da cruz.          
       Aécio Neves também já se desvestiu dos arroubos de campanha e partiu para acomodar-se ao jeito tucano de ser, sequer se pronunciando sobre impeachment ou qualquer idéia tão “subversiva” quanto.
       Antes de eu me mostrar arrependido de não ter votado em Luciana Genro, quero confessar minha esperança de que as coisas hão de entrar nos eixos – ou saírem deles de uma vez por todas –, mais cedo ou mais tarde, pelas contradições da própria política ou pelas mãos que teclam os zilhões de teclados conectados à Internet. Tucanos e petistas- eu escrevi isso em recente artigo neste blog, "O mundo está tão diferente!"–, não podem se esquecer que o controle do processo político não está mais nas mãos das velhas lideranças, mas pode estar nas mãos de alguns milhares de internautas que disponham, no escondido do lar, de um computador que possa arregimentar adeptos pela rede mundial. É tão simples que é espantoso que tantos representantes da velha política ainda não tenham percebido. 


(Alckmin e Dilma)

21/11/2014

Responsabilidades no caso Petrobras


        Os jornais noticiam que a diretoria da Petrobras trata agora de obter a restituição dos recursos desviados pela quadrilha que se instalou, como sanguessuga, no comando da empresa. Tenho, sobre isso, algumas considerações a fazer:

1ª.)- Essa é uma tarefa inglória, para não dizer impossível; depois de aberta a porteira, trazer de volta todo o gado evadido é o mesmo que tentar trazer de volta as águas de um açude estourado.

2ª.)- A própria presidente da Petrobras deveria ser severamente punida por negligência, no mínimo e de algum modo responsabilizada por tudo. A mesma coisa vale para os ex-presidentes, até onde essa farra começou.

3ª)- Ainda que, centavo a centavo, toda a dinheirama fosse trazida de volta, existe um prejuízo que é de todo irrecuperável: é a chamada perda moral, que afeta, não apenas a empresa, mas todo o governo, quer a presidente da República esteja direta ou indiretamente envolvida nos escândalos. É da responsabilidade da presidente zelar pelo patrimônio público e coibir tamanha roubalheira, capaz de afetar até o orçamento da União. A mesma coisa vale para o ex-presidente Lula. Ambos, além da perda de mandato a quem recebeu mandato, devem ser julgados e responsabilizados criminalmente.

4ª.)- É preciso olhar para a elegibilidade de todos os membros dos partidos envolvidos, saber quem tem e quem não tem o direito de continuar na vida pública. Presidentes, secretários, todos os graúdos do diretório nacional, quer tenham, quer não tenham envolvimento direto com o crime deveriam também ser punidos por negligência, omissão, cumplicidade.
        Ou se restabeleça a moralidade ou nos locupletemos todos.

(Presidenta da Petrobras)



17/11/2014

Veja: era tudo verdade!

        Depois daquela edição extra da revista Veja, que circulou pouco antes do segundo turno das eleições presidenciais, que implicavam Lula e Dilma nos escândalos da Petrobras, o país ficou à espera que alguma outra mídia confirmasse ou negasse as denúncias pela gravidade extrema que elas continham. Demoraram algumas semanas, mas deu “bingo”.
        Saiu no jornal O Estado de São Paulo, em editorial, 3ª. página, sexta-feira, dia 14 de novembro, com o título: “Lula e Dilma sempre souberam”. Gostaria de saber o que levou o jornal, que ainda preserva grande prestígio, a trazer em editorial um assunto que deveria expor em sua primeira página e como manchete. São mistérios dessa fase um tanto sinistra em que penetrou o jornalismo brasileiro.
        O modo  com que o jornal ratificou as denúncias de Veja chama atenção pela simplicidade: limitou-se a informar que o então presidente da República, Luiz Ignácio Lula da Silva, vetou em 2010 os dispositivos da Lei Orçamentária aprovada pelo Congresso que bloqueavam despesas de contratos assinados com a Petrobras consideradas superfaturadas pelo Tribunal de Contas da União - TCU. E com isto abriu as porteiras para a grandiosa “farra do boi” com recursos da estatal que presenciamos atualmente. Importante: o veto presidencial foi encaminhado ao Congresso Nacional pela Mensagem nº41, de 26-01-2010, da Casa Civil da Presidência da República, cuja ministra-chefe era nada mais nada menos que a ilustríssima senhora Dilma Rousseff.
        Durante a campanha, Dilma repetiu tantas vezes e com tanta insistência que havia combate sistemático à corrupção em seu governo que seus seguidores não apenas incorporaram isto ao discurso como acreditaram ser esta balela uma verdade. Mal sabia ela que tanta insistência ainda poderá lançar a ela e a seu criador na mesma rede. É só uma questão de tempo.



(Dilma e Lula)

14/11/2014

O mundo está muito diferente!

        As revoluções acontecem e os Black-bloc´s são um pequeno mas efetivo exemplo de que elas passarão a ocorrer, mesmo no Brasil, mais rapidamente e menos controladamente. Os cordões que sempre permitiram manter a situação sob controle passaram para outras mãos, mais numerosas, menos criteriosas e mais extravagantes. As lideranças da política tradicional deveriam prestar mais atenção nisso se quiserem sobreviver um pouco mais de tempo.
        A grande mudança instala-se com a Internet em toda parte. Os arautos dos novos tempos não são mais dois e nem três, podem ser milhares, milhões. Quem tem um computador conectado à rede mundial pode sim, de casa, no escondido do lar, propagar a novidade e mobilizar pessoas para uma causa. Isso já começou a acontecer no Brasil e a tendência é se expandir e se fortalecer junto com o alargamento das bandas da Internet.
        I-n-t-e-r-n-e-t, eis o grande tema da atualidade e da modernidade e a classe política, pelo que se observou na última campanha, pelos debates, passou distante dele como o diabo passa da cruz. Os políticos brasileiros ainda dão a impressão de achar que Internet é ter um site de campanha, alimentar o twitter com notinhas maliciosas, distribuir press release por e-mail e pronto, fim. Na hora que acordarem para a capacidade mobilizadora e a disrupção provocada pela net, será tarde demais, a vaca terá ido pro brejo de onde não conseguirá sair mais.
        Os políticos ainda se preocupam com a mídia tradicional e não conseguem observar que ela foi a primeira a ser atingida pela disrupção que avança à galope em todo o mundo, sepultando jornais, revistas e ameaçando levar, impiedosamente, grandes e influentes mídias para o buraco. Não existe mais nenhuma disposição em esperar que Fidel Castro e Che Guevara desçam de Sierra Maestra para dar a voz de comando. A hora pode ser agora ou daqui a pouco, a depender dos interlocutores alcançados pela net.


 

12/11/2014

Altos e baixos do Plim-Plim

        Tem gente que não vê a TV Globo por princípios ideológicos ou apenas partidários. A quem me pergunta, digo que vejo bastante a Globo, sem me importar, nenhum pouco, com essa história de “mídia do capitalismo selvagem”. Acho mesmo que selvagens são os pais que privam os filhos de ver até desenho na emissora líder de audiência. Conheci uma família que, por motivos religiosos, proibia os filhos de ver televisão e eles se transformaram, quando adolescentes, em jovenzinhos com uma escala de valores abominável, menos por não verem televisão e mais, muito mais, pela incapacidade dos pais em educá-los.
        Criei meus filhos, desde adolescentes,  livres para assistir a tudo que quisessem na TV- inclusive o Programa do Ratinho. Sem censura e preconceitos. Preocupava-me apenas em transmitir uma boa escala de valores, espírito crítico, e fazia isso com simplicidade. As crianças de hoje em dia e do tempo em que meus filhos eram crianças (hoje, são adultos) são muito perspicazes, sagazes, maliciosas, o que facilitou muito minha vida de pai.
        Imagino as preocupações dos pais de agora, com o advento da Internet, quando, com dois cliques no teclado de um computador, entra-se em sites com sexo explícito. A partir de uma certa idade não há limites que se imponham, tudo pode ser suplantado. Censurar a mídia? Não! Orientar as crianças e adolescentes, desenvolver nelas o espírito crítico, eis o caminho mais seguro.
        Mas voltemos à Globo e sua, digamos, “perniciosidade”. Ao contrário do que pensam os detratores da emissora, ela foi a única a passar por evolução técnica intensiva e contínua na apresentação da notícia. Seu noticiário tem grande mobilidade em todo o país. Quem quiser saber o que acontece de importante, no dia a dia, do Oiapoque ao Chuí, tem de ver a Globo.
        Tem de ver tudo, entretanto, de olhos bem abertos e com o espírito crítico aguçado. Por que? Por várias razões. Primeiro, porque jornalismo, por mais bem acabado que seja, tem falhas, erros de foco, de linguagem. Segundo, porque de vez em quando, e muito de vez em quando, a emissora omite informações. Ela, como todas as demais, não costuma por o guiso no pescoço do tigre e nem é louca para fazer isso.
        A Veja e suas denúncias que implicavam Dilma e Lula no Petrolão falou sozinha. Foi o tempo em que funcionava o espírito solidário da mídia. A partir de agora, com a crise que se abate sobre a mídia em geral, assistiremos a um “cada um para si e o Lula para todos” cada vez mais intensivo.
        Tem gente que vai detestar o que vou dizer agora, mas não faz mal: na avaliação diária que faço da emissora do Plim-Plim, vejo muito mais méritos do que deméritos. Voltaremos ao assunto - a crise da mídia - em breve...



10/11/2014

Impacto do Real

        27 de fevereiro de 1994. Essa foi a data oficial do lançamento do Plano Real, quer dizer, faz pouco mais de 20 anos que o partido dos tucanos, o PSDB, revirou a economia brasileira de pernas para o ar. O plano, do ponto de vista histórico, é quase um adolescente, de modo que esquecer-se do impacto que essa invenção tucana produziu na economia e na sociedade, negando os benefícios que ela causou e ainda causa aos brasileiros é simplesmente uma imoralidade, pura manipulação das pessoas que não viveram aquele período de inflação estratosférica.
        Em maio de 1993, a inflação se encontrava na casa dos 32,27 ao mês e chegaria nesse ano a 46,58 por cento; em outubro de 1994, quer dizer, menos de um ano depois, havia desabado para 1,82 por cento e permanecido nesse patamar ou pouco acima dele por anos a fio, só ameaçando ultrapassar novamente os dois dígitos agora na gestão de Guido Mantega e Dilma Rousseff.
        Quando Dilma Rousseff, a candidata do PT, vociferava nos debates televisivos contra o PSDB, dizendo que o partido tucano era o partido dos ricos, e que nenhum tucano tinha sensibilidade para entender os problemas dos pobres eu olhava para a TV indignado e me perguntava, de onde veio essa mulher, de que planeta ela saiu? Cinicamente, a candidata dos “pobres” demonstrava desconhecer a inflação e os efeitos perversos que ela pode trazer a uma sociedade, especialmente aos pobres.
        O Plano Real foi um enorme pacote de bondades que ainda vão ser sentidas por muitos e muitos anos, a menos que apareça um governo incompetente, mas muito mais incompetente que esse que aí está, para destruir as suas bases, muito bem plantadas de norte a sul do país.
        Contra o desabastecimento que ameaçou e destruiu todos os planos anteriores, o Real ofereceu o livre mercado, ou seja, a possibilidade de importar todo e qualquer produto que ameaçasse trazer a inflação de volta, quer pela escassez, quer pela especulação; contra a paralisia da economia oferecida pelo estatismo exacerbado o Real trouxe a privatização galopante; contra o empreguismo, o plano trouxe um enxugamento do aparato estatal nunca antes verificado na história do Brasil republicano.
        Houve entre 1993 e 1995 uma redução de 18,47% da população miserável do país fruto do sucesso do plano. O avanço do PT na sua plataforma social só foi possível porque, antes, o governo do PSDB preparou tanto a estabilização da moeda quanto a leveza da máquina estatal, tornando-a mais enxuta, ágil, eficaz.
        Tudo o que for dito diferente disto é manipulação de informações com objetivos eleitoreiros. É a realidade descrita por um jornalista que não tem nenhuma razão para mentir e que viveu, fato por fato, essa realidade.




08/11/2014

Quem foi o escolhido de Suely?

        Suely, ou Suelizinha, como sempre a chamamos na intimidade familiar, já é avó; conheci seu netinho, que mora na Espanha, ainda outro dia, no casamento do seu filho, Gabriel, em Vargem Grande, numa chácara em noite friorenta,  diria que até imprópria para grandes encontros familiares. Foi, ainda assim, divertido e prazeroso rever tanta gente que me quer bem e que, digamos, continua penalizada pelo que me aconteceu. Seu neto, um gracioso menino de três anos de idade –Téo – é filho de Marina, sua filha mais velha que estuda na Espanha, onde mora.
        Suely é dos mais ardorosos seguidores do meu Blog. Disse que gosta de tudo, ou melhor, de quase tudo que escrevo. Foi sincera: não aprovou meu posicionamento político, mas certamente o respeitou porque nunca  mandou nenhum recado me censurando, nem por dentro e nem por fora do Blog. Preferiu esperar para me dizer pessoalmente, creio.
        Suely, Suely Gimeno, (sobrenome do marido, Joaquim Gimeno, um dos pintores mais talentosos que eu conheci) é nutricionista, referência em sua área. Faz um trabalho de profundidade sobre alimentação dos povos indígenas do Acre. Gostaria que ela me seguisse também politicamente, mas... divergir é um direito dela, que eu respeito. Senti não podermos esticar a conversa naquela noite. O frio levou embora meus argumentos.
        Ela me fez pensar que eu vivo hoje um momento especial da carreira jornalística, o de poder externar publicamente as minhas preferências políticas, externá-las e defendê-las. Sou de um tempo em que o jornalista guardava suas preferências a sete chaves e só podia manifestá-las de modo indireto, pela escolha de assuntos e pela escolha de entrevistados. Se alguém se desse hoje ao trabalho de ler tudo o que escrevi ao longo de mais de quarenta anos de jornalismo poderia notar o quanto fui cáustico com os poderosos, totalitários, e o quanto fui tolerante e justo com os pobres e honrados, sem nunca ter externado uma só opinião em favor ou contra alguém. Era assim que se praticava o bom jornalismo, segundo meus vários professores.
        Um irmão de Filinto Muller, político que simbolizava, durante a Ditadura, o máximo de adesismo aos militares que um civil podia externar, disse certa vez que havia, a serviço do jornal O Estado de São Paulo, dois tipos de jornalista - um que escrevia os editoriais, criterioso, sério e outro, comunista, altamente subversivo, que escrevia notícias e reportagens. Eu sempre escrevi notícias e reportagens, nunca fui comunista, mas subversivo, lá isso eu fui. E muito! Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados, dizia, cheio de razão, Millôr Fernandes.
        Não sei se Suelizinha leu a Veja que circulou antes da eleição do segundo turno para presidente; se leu e ainda assim votou na Dilma, deve ter votado envergonhada.


(Suely entre outras pessoas numa Aldeia Indígena)

06/11/2014

Meus amigos da bocha

        João Vitamina, Cláudio Seleiro e Rodrigo Mesquita, ele mesmo, um dos herdeiros do Estadão, vieram me visitar entre a penúltima sexta-feira e o domingo. São hoje o que eu chamo de “amigos da bocha”.
        Vitamina é uma figura engraçada, tem sempre uma piada nova para contar. Desta vez, por exemplo, contou-nos a “história do melhor vendedor do mundo”, que foi contratado por uma grande loja de departamento de São Paulo. Após o primeiro dia de trabalho, o gerente de vendas promoveu uma reunião com os vendedores; quis saber o valor de todas as vendas e quantos clientes cada um havia atendido naquele dia; o primeiro revelou que havia atendido 40 clientes e atingido um total de 200 mil reais em vendas; o segundo havia atendido 45 clientes e vendido um total de 160 mil em mercadorias; e assim foi, seguindo todos o mesmo padrão.
        Havia grande expectativa na reunião em conhecer o resultado alcançado pelo “melhor vendedor do mundo”. Quando chegou a vez dele a estupefação foi geral - ele, imaginem, havia atendido apenas UM cliente :
- Mas como é possível, o melhor vendedor do mundo passa o dia inteiro e atende apenas um, UM, cliente!? Eu ouvi mal ou foi isso mesmo!!!??? - esbravejou o gerente.
- O senhor ouviu direitinho. Peguei apenas um cliente e passei o dia vendendo coisa pra ele.
- Está bem, está bem ! Agora podemos saber qual o valor total de suas vendas ?
O melhor vendedor do mundo quase derruba de costas todos os seus colegas :
- Tá aqui nas notas, deu um total de 16 milhões e 440 mil reais.
- PQP! - exclamaram todos ao mesmo tempo.
- Foi isso mesmo que vocês ouviram. Deu pouco mais de 16 milhões de reais, reagiu o melhor vendedor do mundo.
- Pois então conta aí o que foi que você vendeu pra ele para dar esse valor astronômico, pediu o gerente.
Sentaram-se todos diante do “melhor” e ouviram, silenciosos, curiosos:
- Comecei pelos anzóis, pois ele disse que ia pescar no fim-de-semana; em seguida, vendi um monte de carretilha, de todos os tamanhos. Como ele disse que ia pescar em alto mar, vendi aquele barcão para mais de doze passageiros; e tem mais, vendi também uma caminhonete três por quatro para levar o barco pra praia; vendi ainda lona pra cobrir o barco. Só de repelente para mosquito ele levou uma sacola cheia... somando tudo...
- Maravilhoso, espetacular, quer dizer que o cara entrou na loja para comprar um anzol  e você empurrou todas essas coisas para ele ? - disse o gerente, estupefato.
- Não foi bem assim. Na verdade, ele entrou na loja para comprar um absorvente feminino e eu lhe perguntei – Quem está menstruada, sua esposa?-  Ele respondeu afirmativamente.Foi quando eu lhe sugeri:- Olha cara, já que seu fim-de-semana foi pro espaço, porque você não vai pescar?
        Rimos bastante. Sobrou muito tempo para falarmos da bocha, relembrarmos histórias vividas juntos, pequenas viagens nas disputas do campeonato metropolitano, etc. etc. etc. Os dois – Vitamina e Seleiro – vêm em casa com frequência. Quando se ausentam por muito tempo, reclamo pelo meu Blog.
        Rodrigo Mesquita é mais constante. A família dele tem um casarão de lazer perto da minha casa. Sempre que Rodrigo vem para o casarão, passa em casa. Há sempre muitos assuntos para tricotarmos – o desenvolvimento da Internet (Rodrigo acompanha esse tema como nenhum outro no Brasil); a crise na mídia escrita, motivo de preocupação permanente de um dos herdeiros do Grupo Estado; eleições, pois faltavam ainda duas semanas para fechar o segundo turno e o caldeirão estava fervendo;  a conversa gira, gira e termina sempre na...bocha.
        O casarão da família Mesquita fica num terreno muito acidentado e a cancha de bocha foi erguida no alto de uma colina. Subir até ela é quase um exercício de rapel. Cada vez que Rodrigo me visita, discutimos  mais uma etapa do plano de me levar, eu e minha cadeira de rodas, lá para cima, na cancha de bocha, cuja construção eu ajudei a definir. Grandes momentos da minha vida passei lá em cima, respirando ar puro, comendo um bom churrasco, admirando a paisagem ornamentada por uma piscina de águas azuis circundada por imponentes palmeiras imperiais.  E o mais importante: tudo no convívio dos amigos.



(Imagem da cancha de bocha na chácara de Rodrigo Mesquita)

04/11/2014

Amigos & opções políticas

        Escolho amigos pelo caráter. A falta de caráter de amigos já me trouxe enormes dissabores. O mau caráter se revela nos momentos de crise, crise no trabalho, crise por razões financeiras, crises passionais. Há nomes - Elói, Francisco, Gustavo - que só em ouvir já me provocam urticária. Foram pessoas que me trouxeram grandes decepções. Com essa onda de reciclagem, descobri que há lixo melhor que elas.
        Formei meu caráter ainda na passagem da adolescência para a juventude, quer dizer, quando acordei para a vida já tinha caráter firme, inexpugnável, sujeito a qualquer prova. Digo isso porque já fui submetido a muitas provas e hoje posso dizer que fui aprovado em todas elas, com louvor. É o grande patrimônio que carrego comigo, do qual me orgulho, sempre me orgulhei.
        Tenho amigos que votaram no PT nestas eleições; se me perguntam, digo que o PT está a cada eleição mais parecido com o antigo PDS ou a antiga Arena - quem tem a minha idade, lembra-se muito bem de um e da outra. Eu, entretanto, não escolho meus amigos por sua preferência política e nem por sua cor ou opção sexual. Tenho amigos negros, gays e sempre os considerei bons caráteres. O caráter é que importa! Não tenho, nunca tive e nunca terei amigos na direita radical, pois essa opção política é sinônima de completa falta de caráter.
        Já votei no Lula para tentar barrar a subida do Collor à presidência, por sorte ele perdeu daquela vez; fiquei apavorado quando percebi que nossa opção nestas eleições estaria entre Marina e Dilma e talvez as circunstâncias me levariam a votar novamente no PT. Um amigo, tucano desde criancinha, Sandro Vaia, a quem confessei minha dúvida, deu-me o que pode ser considerado um chacoalhão e me fez desembarcar definitivamente na campanha de Aécio, que, a meu ver, mereceu a vitória.
        Dali em diante, prestei mais atenção na Marina, resolvi todas as dúvidas que eu tinha a seu respeito, e hoje entendo que ela seria também uma boa opção para o País. Consolidei também nestas eleições minha visão de que o PT envelheceu, deixou-se corromper, deveria ser desalojado do poder por uns tempos, ficar de 10 a 12 anos no estaleiro, fazer um “mea- culpa” de seus erros, renovar-se. Se não fizer isso em breve, terá um fim melancólico, me-lan-có-li-co. Mais esses quatro anos de poder podem transformar o Partido dos Trabalhadores, o partido dos Operários Metalúrgicos, no partido mais corrupto da história da República.





02/11/2014

É preciso mais que notas de repúdio!

        O PT tenta fazer humor com aquilo que não é engraçado. Convido o leitor deste Blog a buscar pelo Google o seguinte endereço: meme pragmatismo político (link abaixo). Meme, para quem não sabe, é um cartoon de humor sobre um tema qualquer da atualidade, com a colaboração geralmente de uma vasta gama de internautas de todos os matizes ideológicos. Neste site que indiquei, vamos observar  a maior coleção de memes disponível na Internet sobre a edição da Veja que circulou na anti-véspera do segundo turno dessa última eleição para presidente da República. Os autores dos memes quiseram passar a idéia de que era uma brincadeira de despretensiosos internautas, mas, com certeza, o site tem vestígios claros de produto orientado e editado. Para mim foi coisa de quem pretendia jogar as denúncias no deboche, para desestimular apuração, seriedade, conseqüência.
        O Brasil e sua ainda incipiente democracia chegaram a uma encruzilhada. A vitória do PT trouxe à tiracolo o desejo de aparelhar o Estado muito mais do que já foi aparelhado. Trata-se agora de libertar os companheiros presos e condenados “injustamente” e driblar as acusações que já vieram e ainda virão nas irregularidades encontradas nas operações da Petrobras. Quem viver verá!
        Sempre que há um atentado contra a imprensa, como foram as agressões ao prédio da Veja em São Paulo, logo depois da circulação da edição especial da revista que implicava Lula e Dilma nos escândalos da Petrobras, várias entidades de classe, como ABI, OAB, etc., lançam notas de repúdio. Acho que daqui em diante todas elas têm de pensar em muito mais que isso; pensar em vigília, mobilização, ações mais efetivas de manutenção da democracia, que sem nenhuma dúvida pode, a partir de agora, dar grandes passos para trás.
        Uma primeira providência poderia ser a de exigir investigação sobre as denúncias de Veja sem mais demora, pois já se passaram dez dias que a revista circulou e até agora não se viu nenhuma iniciativa no Congresso Nacional para se apurar as denúncias. A própria mídia não puxou as investigações, como teria ocorrido em outras circunstâncias. Na Internet, verificou-se apenas a tentativa de levar o assunto para o ridículo e o deboche.

        A campanha de segundo turno, contudo, deixou mais que indícios de que sempre existiu uma relação promíscua entre o Planalto e os dois personagens que sob o benefício da delação premiada têm contribuído para botar muitas luzes sobre os desvios na Petrobras e muitos outros. E só mesmo por milagre o gabinete presidencial teria ficado distante de toda essa imensa teia de corrupção nos últimos oito anos. Quero dizer que as denúncias da revista baseadas em depoimento do doleiro Alberto Youssef, longe de serem motivo de chacota, são verossímeis, no mínimo verossímeis.

(Memes da capa de Veja com imagens de Dilma e Lula)

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/site-ironiza-desespero-da-veja-como-capas-fantasiosas-em-vespera-de-eleicao.html