13/02/2017

RÉQUIEM PARA O NOSSO VELHO JORNAL!

Dois amigos queridos de Curitiba – João José Werzbitzki e Dante Mendonça – tiveram esta semana um desentendimento sério em torno do boato, persistente, de que o jornal Gazeta do Povo deve suspender sua edição impressa dentro de poucos meses. João José especulou sobre o assunto nas redes sociais e Dante Mendonça, cronista da Gazeta, ficou indignado e partiu para ofensas graves a João José, que limitou-se a divulgar um artigo do jornalista Aroldo Murá apresentando indícios de que o boato tem tudo pra ser verdadeiro...


Não deve haver nada mais triste e constrangedor para um jornalista que admitir que um jornal pode ser fechado, ainda mais se esse jornalista for Dante Mendonça, que certamente ainda não se refez da grande frustração de sua vida – a supressão da edição impressa de O Estado do Paraná (janeiro de 2011), onde construiu sua carreira, brilhante, de cartunista...


A supressão da edição impressa da Gazeta do Povo seria a sua segunda tragédia profissional em pouquíssimos anos… De qualquer modo, quem escolheu o “impresso” como sua mídia deve ter as barbas constantemente de molho… A crise que assola os impressos no Brasil e no mundo lembra uma tsunami, tão avassaladora e destrutiva quanto aquela que atacou o Japão em março de 2011 !


Como jornalista que trabalhou no impresso por muitos anos, passei quase uma década esgrimindo contra a crise, levantando em artigos um rosário de qualidades do impresso para negar a sua falência (credibilidade, versatilidade de uso, aprofundamento da informação, etc, etc), mas hoje já admito que não existe mais espaço para ele – o impresso foi batido pelo meio eletrônico e quem resistir a impetuosidade da onda corre o risco de ser arrastado e morrer submerso...


Realisticamente, vejo apenas dois jornais no Brasil em condições de ter uma sobrevida de poucos anos (não acredito que possa ser de uma década) – O Globo e o Valor Econômico, o primeiro porque será sustentado pela TV-Líder de Audiência e há algum tempo tem praticado um belo jogo de difusão eletrônica da informação; e o segundo porque está apoiado em boa segmentação da informação e é protegido pela lei que obriga a divulgação em papel dos balanços empresariais.


Todos os demais jornais impressos (e revistas de atualidade semanal) que se acautelem; a indústria do impresso tornou-se insustentável e o round  final se aproxima, é só uma questão de tempo; na briga entre João José e Dante, eu, tristemente, sou mais João José… Percebo o desespero de quem tenta manter de pé a Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, e tantos outros, pequenos ou ainda grandes… Será, com certeza, uma batalha inglória… A publicidade já desistiu do impresso e a grande massa de leitores também… É triste, dolorido, a um jornalista dizer isso, mas ladies and gentleman, foi bom enquanto durou, mas acabou… A-CA-BO-U !


RASTROS AMARGOS DO FIM


Passei, creio, mais de seis meses sem bater os olhos num impresso… Quebrei o jejum há quatro dias quando minha mulher, Susana, trouxe-me um deles. Entregou-me e anunciou:


- Ganhei na rua!


Confesso que eu ainda não o abri… Está aqui, dobrado, quase esquecido sobre uma cadeira, na mesma cadeira onde jazem dois exemplares – os últimos – de Veja. Cancelei minha assinatura da revista há mais de um ano...


Já houve uma época que eu percorria várias bancas da cidade atrás de um exemplar de Veja… Olho hoje com desprezo para os exemplares que me entregaram de graça… Têm cheiro de coisa velha… Achava que os jornais de uma cidade pequena como Vinhedo (75 mil habitantes), onde moro, iriam sobreviver… hoje não acho mais, morrerão todos, democraticamente...


Convido Dante Mendonça a prestar atenção na internet – a web, meu amigo,  é simplesmente infernal!


Silenciosamente, aqui em casa, coleciono proezas da web... Me vejo a cada dia mais fascinado. Ela é demoníaca! Pegou um a um todos os meus argumentos em favor dos impressos, triturou e jogou no lixo...
Começa pela velocidade com que a informação – qualquer tipo de informação – circula na web; aprendemos com ela que é preciso saber e saber rapidamente (...na tentativa de coordenar politicamente os episódios das chacinas em presídios, o então ministro da Justiça, Alexandre de Morais, era desmentido várias vezes ao dia pelos fatos que se sucediam em Manaus, Roraima, Rio Grande do Norte, regiões hoje açambarcadas pelas redes sociais e que até há poucos anos atrás considerávamos remotas!)


Havia também o argumento de que só o meio impresso tinha credibilidade dada a sua antiga capacidade de transportar documentos, fotos, etc… Hoje, esse apelo tornou-se ridículo perto da capacidade miraculosa da web em carregar, com rapidez, leveza e ampla possibilidades de acesso, qualquer tipo de documento, imagens em movimento, vídeos, o diabo...


Falou-se com insistência que o papel seria insubstituível na análise, no aprofundamento da informação… Outro mito já devidamente triturado pela web… Opero hoje como um divulgador do material que recebo do site O Antagonista – é uma produção diária e intermitente de notícias, análises, vídeos que ajudam a interpretar os fatos… Competente, sério, uma plataforma esplêndida dirigida, gratuitamente, às pessoas que querem acompanhar a crise política e econômica do Brasil, tudo pela web… O Antagonista é uma das razões que me levaram a dispensar jornais e revistas de atualidades...


WEB É UM CANHÃO MULTIUSO


Nada do que possa ser dito aqui poderá dissecar as possibilidades da web… Tenho um sobrinho, Tiago Pimentel, que investe hoje na criação de cães da raça Iron Golden… Sua criação fica num sítio em Jacutinga, ao sul de Minas Gerais… Pois bem, seus futuros clientes podem acompanhar o desenvolvimento de suas duas ninhadas de 10 filhotes pelos vídeos, ao vivo, que ele posta diariamente no Facebook… Os compradores da carne brasileira podem hoje enxergar nossos rebanhos nas pastagens mais remotas...


A população de São Paulo acompanha ao vivo e a cores o passo a passo da gestão de seu novo prefeito João Dória pelos posts que ele despeja, diariamente, nas redes sociais… Ver, elogiar ou criticar, são as possibilidades que a web oferece ao eleitor… Em outras palavras, a web disponibiliza aos prefeitos e demais políticos brasileiros as mesmas ferramentas que oferece aos políticos de todo o planeta, inclusive ao controverso Donald Trump...


Dizia-se que o hábito de consumo de informações em papel era tão antigo (mais de dois mil anos) que nada seria capaz de destruí-lo… Mais um engano… Eu mesmo, hoje com 69 anos, um apaixonado por jornais, alguém que cresceu profissionalmente como jornalista de texto, não consigo mais nem ler e nem folhear um jornal; mais recentemente, incluí as revistas de atualidade nessa rejeição...


Tudo conspira contra o meio papel – o formato, a tinta que ainda suja as mãos, a “eternidade” para fazer chegar a você uma informação; o dispêndio insuportável da entrega, etc. etc.


Falavam-se coisas extraordinárias da portabilidade do papel, essa qualidade que era só dele de ser dobrado, colocado embaixo do braço, levado para o banheiro ou para passeios ou viagens… Hoje, recebemos informações pelo celular, que podemos levar até pra debaixo do chuveiro e ele nos avisa quando chega um dado novo...


FORÇA DA GAZETA SE EVAPOROU


Nos meus tempos de Curitiba (1976 a 1992), a Gazeta do Povo rivalizava com o Estadão em número de páginas; não sei ao certo, mas a Gazeta de domingo chegou a circular com 500 páginas; uma proeza para um jornal de província, que circulava numa cidade que ainda não tinha um milhão de habitantes… Era uma guerra, mas a Gazeta manteve por longos anos a distribuição de sua volumosa edição dominical...


Era um jornal fraco de conteúdo (a melhora só veio com a morte, em 2009, do “Editor Supremo”, Francisco da Cunha Pereira), mas indispensável para quem desejava comprar ou vender alguma coisa – carro, casa, apartamento, geladeira ou bicicleta. A Gazeta foi em seu áureo tempo imbatível em classificados e em distribuição… Todo o comércio, de bares a farmácia, tinha interesse em ajudar na distribuição do jornal…
Hoje, lamentavelmente, ninguém compra mais nada baseado em anúncios de jornal… E desde que surgiram os “malditos” aplicativos, o comércio de imóveis e carros transferiu-se para a internet...


Experimente fazer, pelo Google, alguma consulta que revele interesse em comprar um carro ou um imóvel, qualquer carro, qualquer imóvel e em qualquer lugar… As ofertas vão-lhe perseguir, implacavelmente, por todos os espaços que você ocupar na rede, por muito tempo...


Quero, antes de encerrar este artigo, compartilhar com vocês minhas observações sobre dois achados recentes na web: o primeiro é um vídeo disponível no Youtube com uma música interpretada pela rainha da “Sofrência”, Marília Mendonça, - “Meu Cupido é Gari”.


O vídeo é uma “pérola” para observar os caminhos – infinitos e extraordinários – que a web começa a abrir para a publicidade; a música é interpretada por três bailarinos profissionais, que, ao final, se transformam em garotos-propaganda de uma grife...


O segundo vídeo é para mim uma amostra perfeita da capacidade de síntese da web; o desenho de uma cabeça humana aparece semi-encoberto por uma pequena nuvem; você aciona o vídeo e a nuvem ganha vida: explodem raios e trovões e você é arrastado pra dentro de uma tempestade, com direito a chuva torrencial… Som, imagem, cenas de muito realismo, servem para sustentar um preceito filosófico: “Cuidado com as tempestades que se formam em sua cabeça, estas são as piores!”... encontrei esse vídeo por acaso na página de uma amiga espanhola do Facebook (veja abaixo)...

Vai competir com um bicho desse, hem Dante Mendonça?!








João José Werzbitzki

Dante Mendonça


No hay peor tormenta que la que se arma uno solito en su cabeza!


Meu Cupido é Gari - Marília Mendonça - Coreografia 

03/02/2017

Quem chora por Marisa?

        A morte de dona Marisa Letícia nos oferece um ótimo momento para reflexão: o poder não produz a eternidade, como muitos imaginam;  produz, às vezes, tragédias e fatalidades, como nos demonstra a ascensão e queda da Família Collor de Mello; que isto fique de alerta para os gananciosos e corruptos...

        A morte de Marisa Letícia lembrou-me outra morte feminina, a de dona Leda Collor de Mello, mãe de Fernando, de Pedro, de Leopoldo, de Ana Luíza... Dona Leda morreu em circunstâncias mais tristes, abandonada que fora – por 19 meses – em "vida vegetativa" num quarto do Albert Einstein, em São Paulo...

        Não viveu para ver a renúncia humilhante de seu filho-presidente, nem a morte de seu outro filho, Pedro, com um tumor maligno na cabeça; não viveu para assistir ao enterro de mais dois filhos, Ana Luíza, de insuficiência respiratória, e Leopoldo, de câncer... Mesmo abandonada, o destino lhe poupou de muitos outros dissabores, portanto...

        Dona Leda não teve tempo de desarmar a bomba que implodiu a permanência do filho no Palácio da Alvorada; como chefe do clã, ela poderia impedir que PC Farias entrasse na posse de um quinhão acionário das empresas de comunicação da família, em Alagoas, o quinhão que pertencia ao Filho Leopoldo Collor... Bastaria uma canetada sua para que a armação do filho-presidente fosse desfeita, mas ela adoeceu severamente antes...

        Essa história é pouco conhecida mas tem  relevância para entender o que de fato se passou. O irmão Fernando disparara na corrida presidencial e Leopoldo achou que poderia ter a sua fatia da dinheirama que entrava para financiar a campanha... Comprou a prazo um apartamento luxuoso de PC Farias, em São Paulo, comprometendo-se com prestações acima de 200 mil reais por mês. Começou a atrasar o pagamento, e PC Farias, certamente instruído pelo irmão-presidente, começou a apertar... Sem dinheiro, Leopoldo ofereceu suas ações na empresa da família em pagamento da dívida – era tudo o que  Collor e PC Farias desejavam...

        O que os dois  certamente não ponderaram é que Pedro Collor ficaria enfurecido com a ideia de ter um sócio em Alagoas com o perfil de PC Farias, “um desclassificado”, segundo proclamou de megafone em punho.

        Fernando não recuou e Pedro recrudesceu... aí vieram as denúncias pesadas contra o irmão, veio o processo do impeachment, veio a renúncia, o assassinato de PC Farias... A mãe Leda poderia ter evitado tudo, mas...

        Dona Leda era altiva, elegante, arrogante... Marisa fez o papel de mulher subserviente e de certo modo conivente com as bandalheiras dos filhos, do marido e de seu sobrinho, Taiguara, golpista na África; a história, por certo, não lhe prestará homenagens...

        Muita gente critica Marisa pelas redes sociais e várias outras clamam por respeito à morta... Cá no meu canto, sinceramente, acho que todas as pessoas que querem respeito na vida ou na morte, precisam se dar ao respeito... Não choro por Marisa e fiquei penalizado pelo fim silencioso e triste de dona Leda...

Vida que segue...

Marisa Letícia e Leda Collor de Mello