15/07/2014

Soberba e imaturidade por trás de mineiraços e maracanaços

Especial 

Era criança ainda e não tenho a memória daquela derrota da seleção brasileira para o Uruguai. Foi no Maracanã num domingo, 16 de julho de 1950. Ficou conhecida, a partida, como maracanaço.     
Tenho a impressão que a partida contra a Alemanha em que a seleção brasileira neste inesquecível 8 de julho de 1914 foi derrotada por 7 a 1 passará para história como mineiraço, pois aconteceu no estádio de Belo Horizonte conhecido por Mineirão.
Maracanaço e mineiraço foram travados num clima comum: uma certa soberba acompanha a seleção brasileira desde aquela época e parece não ter tempo para desaparecer, aliás, recrudesce a cada ciclo de quatro anos quando somos obrigados demonstrar porque nos chamam de a pátria de chuteiras e porque conquistamos cinco – eu disse cinco – títulos mundiais.
Ainda não havíamos conquistado nenhum em 1950, mas era como se tivéssemos 100 deles na prateleira a concluir pelo tom ufanista da mídia e dos políticos convidados a discursar nos grandes eventos da Copa - discursavam sem maiores preocupações, pois naquela época o povo ainda não havia aprendido a vaiar.
A soberba introduz o clima do “já ganhou” e este traz a tira-colo sua amiguinha de sempre: a negligência, aquilo que o "populacho" resolveu chamar sabiamente de “chuteira alta”. Se prestarmos atenção vamos notar que essas coisas foram a marca da seleção brasileira em toda esta Copa do Mundo. A soberba era expressa até na frase cravada nas laterais do ônibus usado pela seleção brasileira para os deslocamentos internos no Brasil: preparem-se, o hexa está chegando. Em outras palavras: mais esse título mundial não será alvo de conquistas. Fiquem todos em seus lugares que o hexa chegará até vocês. Oxalá essa derrota de sete a um e depois outra por três a zero, para a Holanda, reponham as coisas no seu devido lugar.
A soberba não esteve sozinha. Ela se aninhou no espírito de cada jogador em companhia de uma falta de experiência e uma falta de carisma nunca antes observada numa seleção brasileira. Quem assistiu à serie de Tino Marcos , repórter da Tv Globo, com um perfil dos convocados por Felipão, sentiu vontade de levar aqueles meninos para casa e terminar de criá-los.  Digo bem, terminar.  A série exaltava as virtudes e nem se referia à imaturidade, sobretudo para lidar com a responsabilidade ”monstruosa” que é jogar uma Copa do Mundo representando a  pátria de chuteiras, para cuja população perder é pecado mortal e perder de goleada é crime hediondo e inafiançável.
Deu tudo errado e nem os mais experientes “boleiros”, contratados como analistas pelas duas emissoras de televisão que transmitiram os jogos da Copa, conseguiram prever o desastre que a cada dia ficava mais previsível. A imaturidade da seleção brasileira foi escancarada quando o capitão – eu disse o Ca-pi-tão - Tiago Silva pedia para ficar de fora da lista de cobradores de pênaltis contra a Colômbia. Casagrande, um dos “boleiros” a serviço da Globo, deu a entender que enxergava a catástrofe iminente, mas preferiu subir no muro, ficar no jogo de insinuações, sem coragem de disparar de sua tribuna poderosa um alerta veemente. Não adiantaria muita coisa, mas o comentarista teria hoje mais condições de justificar seu alto salário e a fidelidade de seus muitos admiradores.

(foto do ônibus da seleção brasileira com a frase citada no texto)

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