24/09/2014

Uma tímida e cativante profissional

         Foi minha mulher, Susana, quem a viu: aquela não é a Amanda? Olhamos todos, eu e meu filho Ives, e constatamos: sim, era ela. Fazia mais de dois meses que não a víamos. Em todas as vezes que estivemos no Lucy Montoro, no Morumbi, em São Paulo, a meu pedido, descemos ao menos um, andar das terapias, para tentarmos vê-la. Demos azar. Por várias razões, não conseguimos encontrá-la, mas agora ela estava ali, pertinho, como se fôssemos dar início a uma sessão de terapia ocupacional. Fiquei muito feliz em revê-la. Sua imagem de professora exigente, carismática, mas graciosa, cativante tem-me acompanhado durante várias horas do dia. Devo a ela grande parte da recuperação do meu braço direito, afetado duramente pelo AVC que sofri em julho de 2013.
        Ao conduzir minha cadeira de rodas pela casa, lembro-me de Amanda. Foi ela que insistiu para que eu a conduzisse, com pouca ou nenhuma ajuda do cuidador; na hora de trocar de camisa ou blusa, lembro-me de Amanda. Foi ela que insistiu exaustivamente: primeiro põe a manga do braço direito. Na hora de comer, lembro-me de Amanda. Foi ela que me fez cortar aqueles bifes de massa plástica dezenas de vezes. Era incansável em forçar a repetição dos exercícios até eu pegar o jeito. 
       
 No dia que a revi, Amanda não estava bem. Tomávamos um lanche na cantina do Instituto.  Ela disse estar com enxaqueca e talvez por isso não tenha vindo sentar-se com a gente assim que nos identificou. Minha mulher falou-lhe do meu desejo de revê-la. Ela respondeu com o seu sorriso característico, algo entre simpatia e timidez. Eu perguntei se ela acompanhava meu Blog. Disse que não, mas que estava curiosa para saber o que eu tenho escrito. Garantiu-me que a hora que sobrasse um tempinho entraria para ver tudo o que eu tenho escrito. Comentei que num texto menciono o nome dela. Deve ter ficado curiosa. Em casa, à noite, a primeira coisa que vejo é uma mensagem de Amanda: Como lhe prometi entrei hoje no seu Blog e, no primeiro texto, já me achei lá dentro...
        Amanda é dona de um rigor adocicado e talvez seja isso que a torne especial. A terapia é para certos pacientes, como eu, que nunca foi apaixonado por exercícios físicos, algo sempre difícil, penoso. As sessões com Amanda eram bem suportáveis, não chego a dizer que eram agradáveis, mas eu as suportava, digamos, com grande respeito e disciplina. Havia nela um ar ingênuo e suave, algo que parecia sair de sua alma. Tem vocação para aquele tipo de trabalho.

(foto de Amanda Ubida beijando um boneco)

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