08/11/2014

Quem foi o escolhido de Suely?

        Suely, ou Suelizinha, como sempre a chamamos na intimidade familiar, já é avó; conheci seu netinho, que mora na Espanha, ainda outro dia, no casamento do seu filho, Gabriel, em Vargem Grande, numa chácara em noite friorenta,  diria que até imprópria para grandes encontros familiares. Foi, ainda assim, divertido e prazeroso rever tanta gente que me quer bem e que, digamos, continua penalizada pelo que me aconteceu. Seu neto, um gracioso menino de três anos de idade –Téo – é filho de Marina, sua filha mais velha que estuda na Espanha, onde mora.
        Suely é dos mais ardorosos seguidores do meu Blog. Disse que gosta de tudo, ou melhor, de quase tudo que escrevo. Foi sincera: não aprovou meu posicionamento político, mas certamente o respeitou porque nunca  mandou nenhum recado me censurando, nem por dentro e nem por fora do Blog. Preferiu esperar para me dizer pessoalmente, creio.
        Suely, Suely Gimeno, (sobrenome do marido, Joaquim Gimeno, um dos pintores mais talentosos que eu conheci) é nutricionista, referência em sua área. Faz um trabalho de profundidade sobre alimentação dos povos indígenas do Acre. Gostaria que ela me seguisse também politicamente, mas... divergir é um direito dela, que eu respeito. Senti não podermos esticar a conversa naquela noite. O frio levou embora meus argumentos.
        Ela me fez pensar que eu vivo hoje um momento especial da carreira jornalística, o de poder externar publicamente as minhas preferências políticas, externá-las e defendê-las. Sou de um tempo em que o jornalista guardava suas preferências a sete chaves e só podia manifestá-las de modo indireto, pela escolha de assuntos e pela escolha de entrevistados. Se alguém se desse hoje ao trabalho de ler tudo o que escrevi ao longo de mais de quarenta anos de jornalismo poderia notar o quanto fui cáustico com os poderosos, totalitários, e o quanto fui tolerante e justo com os pobres e honrados, sem nunca ter externado uma só opinião em favor ou contra alguém. Era assim que se praticava o bom jornalismo, segundo meus vários professores.
        Um irmão de Filinto Muller, político que simbolizava, durante a Ditadura, o máximo de adesismo aos militares que um civil podia externar, disse certa vez que havia, a serviço do jornal O Estado de São Paulo, dois tipos de jornalista - um que escrevia os editoriais, criterioso, sério e outro, comunista, altamente subversivo, que escrevia notícias e reportagens. Eu sempre escrevi notícias e reportagens, nunca fui comunista, mas subversivo, lá isso eu fui. E muito! Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados, dizia, cheio de razão, Millôr Fernandes.
        Não sei se Suelizinha leu a Veja que circulou antes da eleição do segundo turno para presidente; se leu e ainda assim votou na Dilma, deve ter votado envergonhada.


(Suely entre outras pessoas numa Aldeia Indígena)

10 comentários:

  1. uerido tio
    Quero dizer que me senti muito honrada por merecer talvez o maior texto que você escreveu nesse blog. Você me provocou, não é?
    Antes de mais nada quero falar da profunda admiração e orgulho que sempre tive(mos) por tê-lo como tio. Você e minha linda tia Suzana sempre foram para mim e para o Joaquim um exemplo. Pessoas que sofreram na pele a repressão da ditadura militar, mas que nunca perderam a esperança e o sorriso.
    Mais do que meu tio, você e a Suzana foram nossos padrinhos de casamento. Curitiba era sempre o nosso destino de escolha e, certamente isso se devia não apenas a admiração, mas também a “semelhança” de pensamentos e ideologia (éramos todos de esquerda). O que mudou nesses 35 anos (casei em 1979)? Difícil responder!
    Naquela noite fria do casamento do Gabriel, quando você conheceu o Theo (minha joia mais preciosa e que tem 2 anos e não 3 como você disse), fiz um desabafo respeitoso. Gosto de ler suas crônicas e relatos, mas quando você fala, atualmente, de política, só posso sentir tristeza. Por essa razão não me manifestei (e sequer “curti”) qualquer comentário seu nos últimos tempos.
    Votei sim na Dilma e com muito orgulho (vergonha? De quê?).
    Não leio a Veja há décadas. Tenho um amigo (médico, professor titular da Usp e um dos poucos pesquisadores brasileiros respeitado em todo o mundo) que diz algo do tipo: “ler dá muito trabalho, assim, escolho muito bem o que vou ler” A Veja (e seus profissionais) é para mim e para o Joaquim, um lixo, assim como a rádio Jovem Pan, o Estadão, a Globo, enfim .............
    Tenho muito mais a falar (EXPERIENCIAS VIVIDAS) do que perder tempo com esse jornalismo de quinta categoria.
    Você publicou uma foto minha em uma aldeia do Parque Indígena do Xingu (feita após uma das etapas de um trabalho muito duro). É isso: trabalho com minorias. Nessa foto, curiosamente está presente alguém de sangue real (uma das “meninas” é sobrinha neta da Rainha da Inglaterra – você e nem o Eder sabiam, tenho certeza). Bem, é isso, trabalho com indígenas, durmo em rede, tomo banho em rio. Da mesma forma, vou para o interior do Acre examinar 1200 crianças e também vou dar aulas para alunos africanos (estive, em 2014, em Cabo Verde). Minha escolha está clara: trabalho com as “minorias” e com os “desfavorecidos”.
    Essas atividades profissionais somente fortaleceram as minhas convicções. VOTO NO PT MESMO.
    Respeitar os territórios indígenas e garantir que suas terras não sejam invadidas é nossa obrigação: ELES ESTAVAM AQUI EM 1500 E NÓS É QUE TIRAMOS O TERRITÓRIO DELES
    Vi de perto o quanto o bolsa família pôde e pode salvar vidas. Salvar vidas mesmo – não são vagabundos – é muito fácil criticar um programa social desse tipo quando nunca se soube, DE VERDADE, o que é a FOME!
    Ajudar nossos IRMÃOS negros é nosso dever moral, afinal, trabalharam como escravos nesse país.
    Bem, certamente você vai falar da corrupção! Pergunto: qual delas? A que sai estampada na Veja?
    Ainda estou esperando a capa da Veja sobre a SECA de SP; do imenso descalabro do METRO de SP (mais de 2 bilhões e tralala) e assim por diante.
    O Maluf está preso? O Quércia e o Pita se safaram ..... Que falar daquele ministro que foi contrabandista de joias (Abi qualquer coisa)? Fernando Henrique? Se temos reeleição hoje é por que ele “comprou”
    Tio, sinto te dizer que a corrupção aqui chegou com o Cabral. A diferença é que hoje ela é divulgada e punida!
    Se você se lembra, sou professora universitária (pleiteando o cargo de Titular – cargo máximo na Universidade). Vi de muito perto a possibilidade de privatização do ensino público – o Lula encontrou as universidades federais em estado de total penúria após 8 anos de gestão do PSDB. Hoje, temos verbas para pesquisa e enviamos nossos alunos de graduação e pós-graduação para estudar (aprender) no exterior.
    Estamos em um país democrático ou você vai dizer que estamos em uma república bolivariana? Você está esperando pelo terceiro turno?
    Tio, as ideias podem ser opostas, mas o amor não

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  2. Só mais uma coisa: o livro do seu ex companheiro de trabalho (Laurentino) está recheado de corrupção, nepotismo, troca de favores ...... já naquela época. Ou seja, desde a "descoberta" do Brasil estamos as voltas com isso.

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    1. Foi provocação? Foi sim Suely. O jeito que encontrei para tirá-la da "oca"e se manifestar. Reagiu bem, eu diria. Há coisas naquilo que você diz que não são pontos de vista, meus ou seus. São coisas da realidade, imponderáveis, insofismáveis. Corrupção é corrupção, é corrupção. Cadeia para os corruptos, minha filha, CADEIA. Sem nenhuma contemplação. Posso estar enganado, mas acho que você, depois de haver escrito esse longo desabafo, sentiu - se melhor. melhor com você mesma, melhor comigo, melhor com as pessoas que lhe querem bem. eu também senti-me melhor por ter conseguido tirá-la da "oca". beijo. abraço.

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    3. Você diria para seu companheiro Pedro Martinelli sair da oca? Eu estive lá, junto aos Panará que ele fotografou! Acho que você, Dirceu Pio, só diz isso para sua sobrinha. Fala com o Pedro! Vou mandar também o Darci Ribeiro sair da "oca". Estive entre os Panará - índios gigantes - não de estatura, mas de alma! Eles mudaram minha forma de ver o mundo. Que pena que você não teve essa oportunidade. Talvez hoje estivéssemos falando de outras coisas muito mais importantes e que, de fato, fazem a diferença.

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  3. Querido tio, quem acompanha as postagens que faço no facebook sabe que eu jamais estive na "oca". Ao contrário, sempre mostrei e publiquei o que penso! bj

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  4. Suely- como vivo sempre fora da "oca", senti vontade de escrever-lhe mais algumas coisinhas:
    1. Peço desculpas por errar a idade de seu netinho. Foi lamentável.
    2. Estou feliz por haver tirado a Suely que eu amo da oca e poder observá-la melhor a céu aberto. São na verdade duas Suelis, uma que faz um trabalho fascinante com os índios do Acre, e dedicada em atender, como diz, as minorias. A outra, talvez por ter ficado muito tempo escondida dentro da oca, foi capaz de absorver grande parte dos preconceitos do PT pelo que esse partido, que ainda se diz dos trabalhadores, tem de pior.
    Essa Suely do PT acredita e professa tudo o que as estúpidas lideranças do partido professam; selecionam a mídia quando de veria ler tudo, acredita naquela bobagem que lhe diz o professor da USP, que ler dá trabalho e que, portanto, é preciso triar aquilo que se lê, acredita que o PSDB iria deixar as universidades públicas morrerem à mingua, e por aí vai.
    O que mata o PT, minha querida sobrinha, é a desonestidade intelectual- quando não encontram nada para atingir o partido adversário, inventa; e nunca reconhece o que os adversários fizeram de bom para o país.
    Quando você der uma saída da oca, uma outra vez, pergunte a economistas sérios qual foi o melhor quadro dos oito anos do governo do Lula. Qual foi, hem ? Muitos dentro do PT preferem morrer do que reconhecer que foi HENRIQUE MEIRELLES , um quadro oiginalmente do PSDB. Isso você mesma saberia dizer se não passasse tanto tempo dentro da oca, consumisse mais informações, lesse todas as mídias, as favoráveis ao PT e também as desfavoráveis, arejar-se mais, ser mais do mundo.
    Suelizinha, o problema não é gostar do PT ou do PSDB, o problema é optar por um ou pelo outro sem olhar dos lados, sem sem notar- pior, sem querer notar que existem mais mistérios entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia.
    Te quero bem e justamente por isso te escrevo.

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  5. O lobão estava certo. Discutir política com o PT é como jogar xadrez com um pombo, ele tenta comer as pedras, bagunça o tabuleiro e ainda sai do jogo de peito estufado. Uma pena .

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  6. Como o Joaquim não tem facebook (e nem quer), ele optou por usar esse "link" para responder a você. O texto é de inteira responsabilidade dele:

    Você não está discutindo política com o PT. Está confrontando ideias com sua sobrinha que não é filiada a partido algum. Vamos então falar de futebol. O Aécio ganhou! Seja ele Cruzeiro ou Atlético. É isso, ele ganhou. Só que ele mistura uma "branquinha" com outra e, definitivamente, não dá certo. Parece que você deu para ofender pessoas que trabalham pela saúde ao compará-los com pombos, citando Lobão (o esquizoide). Em música gostamos mais de Chico, Gil, Milton, Mozart, Dylan, U2 e por ai a fora. Ah! Luiz Gonzaga também. Saiba que os ecologistas alemães pós-marxistas são muito interessantes em política. Discutem ações sobre aquilo que estamos vivendo. Ler Kunz, Marc Jennar, entre outros, é para nós a vanguarda da política atual. Afinal, se acabarmos com a terra, vamos discutir o que? Eu, Joaquim, só vou discutir com você na Arena Corinthians. PS: machista, preconceituoso e outros adjetivos você leva agora mesmo. Os outros falarei vendo o Guerreiro contigo. Abraços. A partir de agora, só ao vivo e a cores!
    PS2: não sou pombo! Sou filiado ao partido socialista espanhol
    o meu email, caso você queira me encher o saco é: royogimeno@yahoo.com.br. Meu whatsapp é 998587937.

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