09/12/2014

Diogo e Guilherme, representantes da meninada da bocha

        Localizada nas cercanias de Louveira – aquele município da região de Campinas onde apareceu uma santa que chorava – a Fazenda Barreiros é o recanto onde um dos ramos da família Mesquita, dona do ainda mais influente jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo, recarrega baterias aos fins de semana, ou seja, repousa, descansa, depois de uma semana de trabalho estafante. Embaixo, foi erguido um casarão, onde já se hospedou, para orgulho da família, sua admiradora, o controvertido Carlos Lacerda, entre muitas outras personalidades marcantes da história do Brasil.
        Acima do casarão, está a piscina, hoje circundada por palmeiras imperiais que o tempo se incumbiu de deixar ano após ano mais majestosas e elegantes; acima da piscina, em meio a um bosque de árvores nativas, frequentadas por esquilos, macacos, e jacus ergueu-se uma cancha de bocha há uns dez anos ou mais por iniciativa de um dos filhos de Rui Mesquita, Rodrigo.
        É engraçada essa tal de bocha, tida ainda hoje como jogo para velhos, mas que na Fazenda Barreiros é a única distração, mais que a piscina, que consegue manter meninos e meninas, adolescentes, jovens de todas as idades, afastados por algumas horas dos celulares, tablets, e leptopes. Só vendo para crer.
        Os filhos dos Mesquitas, que já são muitos, se misturam aos filhos dos amigos da família para formar um interminável cordão de bochófilos que inunda a cancha todos os fins de semana. Diogo (filho de Rodrigo) e seu amigo Guilherme, ambos com mais de vinte anos, participaram entusiasmados do Evento de Recepção ao Pio, este velho jornalista que vos escreve e que em julho de 2013 sofreu um AVC, baixou em cadeira de rodas.         Rodrigo Mesquita, com quem trabalhei durante uns 15 anos, é que planejou levar-me com cadeira de rodas e tudo, lá para cima, passar uma tarde participando da grande farra que a bocha propicia.
        Diogo e Guilherme foram os primeiros a agarrarem- se à cadeira de rodas para impulsioná-la para cima. Pela frente, havia uns 20 degraus de escada a vencer; degraus cobertos de árvores e, portanto, lisos, escorregadios, apesar da estiagem que também ali tem sido impiedosa; era tanto o desejo de me ver lá em cima que todos se superaram e eu cheguei lá em minutos e sem ao menos sentir o tamanho da escalada.
        Lembrei-me de um dia há meses atrás em que estava com a gente meu amigo Coringa. A bocha havia começado por volta do meio dia e permanecemos o tempo inteiro misturados a um bando de meninos e meninas entusiasmados pelo jogo. Anoiteceu e ainda estávamos lá. Lembro-me que naquela noite Coringa sentiu vontade de cantar. Ele canta pelos bares de Campinas, onde mora, e tem uma voz bem interessante.
        Descemos todos para o casarão. Formamos na sala uma bela roda de cantoria. De repente vejo que a meninada começou a deixar a sala, antes de Coringa iniciar sua canja. Desapareceram mesmo! Todos! Passou mais ou menos meia hora e resolvi apurar para onde haviam ido. Não foi difícil descobrir. Abri uma porta adjacente à sala e vejo todos eles, de banho tomado, deitados sobre camas, operando seus tablets e leptops. A música popular brasileira de um repertório de muito bom gosto perdeu para a bocha de sete a um.
        Desde que os padres descobriram a santa chorona, a praça central de Louveira vivia entulhada de ônibus de romeiros vindos de todos os lugares. Um dia o bispo mandou a santa embora para bem longe e a praça se esvaziou.


(Santa que chora da Igreja de Louveira)
 

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