02/07/2015

Seres interativos

Faz quase 20 anos que não vejo pesquisa, estudo, análise, levantamento sobre a interatividade no Brasil. Na metade dos anos 90, tive contato com uma pesquisa bem interessante sobre o tema – a interatividade – entre  usuários de computador na Grande São Paulo. Quem a fez – lembro-me vagamente – foi uma agência de publicidade, de modo que o levantamento tinha um forte viés mercadológico. Ainda assim, revelava que os “interativos” na região eram em torno de 25% dos usuários, ou seja, pessoas que usavam os meios de comunicação disponíveis à época para reclamar de produtos; comentar artigos; externar opiniões, desejos, propor soluções, etc.
A banda da Internet ainda era bastante estreita e os meios – tv, jornais, revistas – ainda não apostavam na interação com seu público tanto quanto apostam agora, na era dos canais bidirecionais. Ao conjunto de meios vieram se acrescentar o blog, o twiter, o whatsApp,  o Facebock , algumas das inúmeras possibilidades abertas  aos cidadãos de todos os matizes – profissionais, empreendedores sociais, militantes políticos – de travarem comunicação direta com públicos específicos ou com a sociedade.
Hoje, tenho dúvidas de que os interativos cheguem a tanto (25% dos usuários de computador); o celular e sua, digamos, melhoria técnica, expandiu fortemente a interatividade, mas é diferente. Pelo celular, conectado às chamadas redes sociais, circula uma interatividade fortemente voltada para o entretenimento; o celular, eu diria, sustenta um Stand-up eletrônico entre milhões de pessoas, ao vivo e em cores.
Interesses pessoais, de grupos, comerciais, profissionais mantêm a  interatividade em toda parte, ampliando-a ou reduzindo-a de acordo com o interesse dos chamados seres interativos. A audiência dos blogs de moda, por exemplo, é espantosamente  elevada – o segredo dos blogueiros é alimentar os endereços com material do interesse das mulheres. Menos de 10% dessa audiência de milhares e até milhão de pessoas interagem, seja para pedir mais informações  ou criticar um assunto.
Há pouco mais de um ano fiz minha estréia como blogueiro. Comecei devagar e a intenção era não perder a embocadura do jornalismo. O blog tem para mim uma função terapêutica – exercitar mãos e memória. Virou uma distração, um passa-tempo. Faço observações diria que interessantes, sobre os seres interativos, as pessoas que entram no blog para comentar o que escrevo.
Divido os “interativos” – menos de 10 % dos meus leitores – em “famílias”. A primeira delas é formada por parentes e amigos. Alguns escrevem sempre, outros, apenas ocasionalmente, quando o assunto lhes toca de um modo especial. Todos me incentivam, é agradável receber as mensagens, elas me dão sempre um bom feed-back. São também pessoas que compartilham aquilo que escrevo, de modo que não consigo medir o alcance do meu blog, sempre maior do que aparenta.
Meu blog está também no facebook  e, por ali, a resposta é sempre maior. Publico geralmente de dois a três textos por semana e calculo ter mais ou menos – a depender do assunto – uns cinco mil leitores semanais. Quando o assunto é política a audiência sobe. É complicado captar o interesse do leitor.
Meu recorde de audiência foi uma crônica sobre Alexandre Nero, o protagonista da novela global, “Império”. Foi surpreendente ver a reação  do público-fã do artista; a crônica teve mais de cinco mil visualizações num só dia. Recorde também de comentários, todos elogiosos. Recebi 10 comentários, ou seja, menos de 10% das pessoas que leram a crônica se dispuseram a escrever.
Retomando a classificação por “família”, tenho também o que eu chamo de “desesperançados”. Por exemplo, escrevi uma crônica sobre a “imaturidade” de Neymar e recebo um comentário assim: “Eu quero mais é que o Neymar e a Seleção Brasileira se fodam”. Não é muito freqüente o tipo de comentário, mas de vez em quando os desesperançados aparecem.
Outra família, que eu chamo de”turma dos agressivos”, são aqueles que querem ter seu dia de glória em cima do blogueiro. Tem geralmente uma compreensão tosca daquilo que está escrito e despejam um texto longo, geralmente mal escrito, feito de pura agressão. Os ataques podem vir em qualquer tipo de texto, mas os preferidos dos “agressivos” são os da política. Vai mexer com certos interesses, vai...

Existe, por último, a turma que o blogueiro Reinaldo Azevedo chama de Petralhas, e que eu, cá no meu canto, chamo de o “grupo  dos indigestos”. São os defensores do PT ou do Lula ou da Dilma. Para os “indigestos”, os petistas merecem o Reino de Deus, e pronto, fim de papo. Não cometem erros, não metem a mão no dinheiro da Petrobras, não se metem em falcatruas. Não há o que se possa escrever contra  o PT que os “indigestos” não contestem com deboche, ironia sórdida, cara-de-pau, arrogância e petulância. Haja saco! 

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