06/08/2015

O raquitismo da TV aberta (II)

        Quando disse, no artigo anterior, que tem faltado “vontade competitiva” às emissoras que concorrem com a Globo é por observar que nenhuma delas tem sabido aproveitar, com mais apetite, as oportunidades de melhorar a audiência nos raros momentos em que a  líder fraqueja; todas elas, da Record ao SBT, passando por Bandeirantes, aparentam estar  conformadas com a rabeira.
        Na noite que a líder exibe Palmeiras e Asa de Arapiraca, nenhuma das concorrentes decidiu colocar no horário do jogo, horário nobre, alguma atração para fisgar aquele telespectador que zapeou à procura de algo melhor para ver. E com certeza, devem ter sido milhões deles.
        Por favor, não venham dizer que faltam recursos para pensar em algo melhor; nem sempre o problema é falta de recursos; geralmente, tem sido falta de imaginação, de vontade competitiva. Vejam a Bandeirantes: já não está mais atenta ao horário da virada da curva de audiência e retarda a mais não poder a entrada no ar de seu ótimo CQC; mesma coisa faz o SBT com o seu “A Praça é Nossa”, às quintas-feiras.
        O tamanho do break publicitário – muito longo – também tem roubado audiência tanto da Bandeirantes quanto do SBT; não consigo entender porque esses canais não adotam o estilo concorrencial da Globo, que em síntese recomenda mais break e mais curtos. E olha que a Globo tem muito mais contratos publicitários que as demais emissoras.
        Trabalhei, como diretor de jornalismo, numa redezinha regional – quatro emissoras, uma na capital, Curitiba, e três no interior – e descobri, em quase dois anos de trabalho, que é possível incomodar a “líder” com iniciativa simples, basta ter vontade de competir. Minha maior façanha foi a cobertura de um assalto ocorrido em Londrina, com ingredientes sensacionais.
        Nossas emissoras repetiam o sinal da Manchete, com Sede no Rio. Eram pouco mais de 11 horas da manhã e recebo um telefonema do correspondente em Londrina alertando-me para a eclosão de um assalto a uma agência bancária: “Um bando de homens mascarados invadiu a agência e mantém como reféns todas as pessoas que estavam lá dentro, com certeza mais de 200, entre funcionários e clientes”.
        Na mesma hora dei sinal para uma funcionária e pedi para ela ligar para a Embratel e fazer a reserva do único canal de transmissão Londrina-Curitiba por cerca de 10 horas. A reserva foi feita e a estratégia competitiva, assim, foi montada. O canal Londrina-Curitiba era único; a emissora que o reservasse tinha direito exclusivo de uso pelo período da reserva; quebrei a “líder” pela espinha. Em 30 minutos colocamos no ar, em rede nacional, o primeiro flash do assalto. A “líder” conseguiu por no ar seu primeiro flash às 4 horas da tarde; teve de levar suas fitas com cenas do assalto de avião fretado para Curitiba.
        Um amigo estava nesse dia na sala de Armando Nogueira (diretor de jornalismo da “líder” na época) no Rio de Janeiro quando nosso primeiro flash do assalto foi exibido; Armando levou um susto, quase cai da cadeira; fez cobranças cruéis a toda equipe do Paraná, que havia sido imobilizada por um gesto de um jornalista de texto com apenas alguns poucos meses de televisão.
        Os jornalistas que trabalhavam comigo na Manchete eram amigos dos jornalistas da Globo; encontravam-se à noite nos bares de Curitiba e vinham me dizer no dia seguinte que ninguém ali, na “líder”, costumava assistir ao nosso pequeno jornal; reagiam na base do não vi e não gostei. Isto foi até o episódio do assalto. A partir daí todos receberam ordens expressas das chefias que tornavam obrigatório verem os nossos jornais.


4 comentários:

  1. Tem um vídeo do Silvio Santos falando que não adianta tentar bater a Globo, pois ela é invencível. Foram essas as palavras do grande comunicador.

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  2. É isso, leandro, falta mesmo vontade competitiva às emissoras que tentam enfrentar a Gobo. Abraço. Participe mais !

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  3. É incrível como as concessões públicas representam feudos midiáticos conservadores, e isto é representado quando os senhores feudais são empresas de comunicação que detém estas concessões há muito tempo, reinando sozinhos (oligopólio) e assim detendo uma reserva de mercado garantida, prendendo-se a anunciantes, jogando o jogo do ibope, sempre transformando uma concessão pública em classificados.

    Com o padrão de tv digital do Brasil, implantado há quase dez anos, em que se cometeu um grande equívoco influenciado por estas mesmas forças conservadoras que mandam na comunicação televisiva brasileira, impediu-se que realmente fosse democratizado este setor tão fundamental da sociedade e que representa um direito humano essencial, que é o direito a informação e a liberdade de expressão.

    A implementação do sistema japonês permite a multiprogramação, as mesmas emissoras digitais produtoras de conteúdo têm a possibilidade de se multiprogramar, ou seja, ter mais de uma programação, um canal. Este sistema é implementado nos canais pagos e, por isso, temos emissoras esportivas com mais de um canal, o mesmo acontecendo com as emissoras de filmes.

    Pergunta-se:

    E os canais abertos? O que fazem as emissoras de televisão com estes canais que podem ser multiprogramados?

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  4. Caro Soares, se a Globo permanece tranquila em seu monopólio, todas as demais flutuam ainda no estado primário da comunicação, Ainda não sairam da casca. Temos de nos conformar. Isto é o Brasil, meu caro. Vi agora de manhã o tão anunciado "É de casa". Não consigo entender como reunem tanta inteligência para produzir um falatório unterminável. Se ao menos fosse uma conversa inteligente, mas não. Foi tudo muito sem graça...

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