22/03/2017

Um projeto pela água

         “Água para todos, todos pela água”, rezava o cartaz impresso no formato de um pôster que anunciava o Projeto Água, uma iniciativa do Planalto Paulista, jornal regional da Gazeta Mercantil com circulação restrita à Região de Campinas, interior do Estado de São Paulo. Nem nós que fomos os idealizadores e executores do projeto previmos que ele teria tanta repercussão – conquistou vários prêmios regionais e chegou à final do Prêmio Esso. Foi no comecinho do novo século...

        Recebeu ampla adesão de anunciantes; inúmeras empresas patrocinadoras emolduraram e puseram na parede o cartaz de apoio institucional ao projeto; produziu transformações básicas na estrutura de gestão das águas em SP; impactou inúmeras indústrias regionais só então alertadas para a escassez da água regional. Pode-se dizer, com segurança, que foi o Projeto Água que intensificou a racionalização do uso da água pela indústria paulista.

        A estrutura do Projeto obedeceu a uma agenda pré-definida e muito bem calculada: começou com a edição de seis cadernos temáticos encartados no Planalto Paulista (por sua vez, encartado no jornal Gazeta Mercantil, de circulação nacional) e terminou com um seminário que reuniu mais de mil pessoas no auditório do CIESP, em Campinas, para discutir a cobrança pelo uso da água.

        Um primeiro “caderno-temático” apresentava toda a dramaticidade do abastecimento de água na região de Campinas, onde um rio – o Ribeirão Quilombo – já havia sido “assassinado” pela poluição; inúmeras indústrias foram autorizadas a se implantar sobre áreas imensas recobertas por um maciço granítico que impede a perfuração de poços artesianos;  sangrados quase de morte nos altos da Serra da Cantareira pelo sistema de captação de água para abastecer a gigantesca população da capital, alguns rios que atravessam a região de Campinas –Atibaia, Jundiaí, Piracicaba- vivem um problema perene de escassez agravado pela poluição....

        Um segundo caderno-temático serviu para denunciar o enorme desperdício de água tratada pelas companhias de saneamento; outro caderno detalhava o Sistema Cantareira e apresentava os números da sangria efetivada nos mananciais regionais... Nos demais cadernos, avançamos na importância da cobrança pelo uso da água e detalhamos o modelo de gestão introduzido na França, até hoje uma fonte de inspiração para todo e qualquer país que pretenda administrar com equidade e segurança os seus problemas de água doce, um bem finito...

        Lembro-me que um dos artigos publicados nos cadernos temáticos mostrava que, na França, o valor da tarifa pelo uso da água subia ou descia de acordo com os índices de poluição dos mananciais, num mecanismo extraordinário para incentivar a conservação por usuários e municípios...

        Outro resultado fantástico do projeto foi o modo como ele incentivou a leitura do jornal-mãe, tanto que as assinaturas da Gazeta Mercantil na região de Campinas, até então estacionadas na casa das quatro mil, disparou impetuosamente para encostar na marca de 20 mil, simplesmente um arrojo para um jornal segmentado... Muito mais gente quis acompanhar os conteúdos do Projeto Água e para isso era convencida a assinar a Gazeta Mercantil...

        Na minha modestíssima opinião, a crise que assola o meio impresso hoje em dia está também relacionada à incapacidade das empresas de comunicação em identificar os verdadeiros problemas regionais e criar mecanismos, pela via impressa, eletrônica ou presencial para, em parceria com as comunidades, atenuá-los ou resolvê-los...



Este cartaz foi feito com uma foto de satélite da região de Campinas e inserção de "tabuletas" nos pontos onde apareciam os mais graves problemas da água na região...abaixo você enxerga as "tabuletas" e suas  denúncias...



A equipe que produziu e editou o Projeto Água posa para foto ao receber o Prêmio do Comitê de Bacias do Capivari/Jundiaí/Piracicaba

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