17/07/2017

As mudanças extraordinárias do jornalismo!

        Há pouco mais de 20 anos, saímos do tempo diferido e entramos de cabeça no tempo real; agora, somos forçados a esquecer o analógico e entrar de sola no digital. E o jornalismo ganha configurações jamais imaginadas!

        Tive o privilégio de pertencer à equipe que, sob a batuta de Rodrigo Mesquita, implantou o tempo real (realtime) no Brasil; tudo ocorreu nos anos 1990 através do projeto da Agência Estado – empresa do Grupo do Jornal O Estado de São Paulo – que saía da condição de agência de notícias para se transformar em agência de informações (enquanto a primeira abastecia de notícias os jornais de todo o país, a segunda começava a abastecer os mercados com informações para orientar o trabalho das mesas financeiras).

        A troca de cultura que se irradiou a partir do projeto da Nova AE – como a Agência Estado era chamada por suas inovações – foi uma verdadeira epopeia: o jornalismo de então estava baseado num regime secular – captar uma informação, redigi-la, editá-la e publicá-la dentro de um prazo de 24 horas ou, quando menos, contemplando os interesses da TV, de oito a dez horas!

        O tempo real quebrava esse ciclo na espinha forçando a divulgação instantânea das notícias... o marketing das grandes agências de informações mundiais (Reuters, Knight-Rider, Dow Johnes, Nikkei),  para conquista de novos assinantes nas mesas financeiras, baseava-se na velocidade com que as notícias importantes eram divulgadas... sair na frente em quatro ou cinco segundos fazia grande diferença!

        Planejado pela Nova AE, o treinamento de jornalistas do Grupo Estado para assimilar a nova cultura foi uma guerra! Envolveu os melhores consultores nacionais e internacionais especializados na preparação das pessoas para receber uma novidade que iria mexer com vigor em hábitos sedimentados, práticas mais do que centenárias, formas consolidadas de apurar, escrever e divulgar uma informação! E o tempo real revolvia tudo, forçava mudanças vigorosas no jeito de produzir e fazer, uma nova cultura!

        Em poucos meses, começávamos a colher os primeiros resultados... lembro-me do dia em que um dos repórteres do Grupo Estado assustou o CEO de uma grande corporação do Rio de Janeiro;  durante entrevista coletiva, ele fora informado por assessores que as informações que acabara de transmitir já repercutiam no mercado, divulgadas por celular pelo repórter que pioneiramente se engajara na cultura do realtime...

        Não é fácil remover uma cultura sedimentada e substituí-la por outra nova... o novo tem de ser robusto para se impor... enfrentará resistência, reações em cadeia, intolerância, reprovação!

        O AE News – o serviço informativo da Agência Estado em tempo real – entrou com tamanha força no mercado brasileiro que em menos de um ano de sua implantação foi capaz de alavancar a empresa, transformando-a em “case de sucesso” e líder absoluta do setor de divulgação de informações para mercados na América Latina...

        “Isso vai virar uma coqueluche”, reagiu com acerto o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, ao ser apresentado a um terminal da Nova AE... E o AE News nascia junto com um novo jornalista, bem mais veloz na divulgação de seus escritos, bem mais consciente de suas responsabilidades frente à informação por saber que agora, ao invés de escrever para o público em geral, uma entidade quase abstrata, passava a escrever para mercados e para um tipo de usuário que iria ganhar dinheiro com sua informação...

NOVA MUDANÇA É MUITO MAIS ASSUSTADORA

        Esses pouco mais de 20 anos que separam a introdução do realtime  dos dias atuais com certeza não foram suficientes para preparar o jornalista para a mudança em curso – da passagem do jornalismo analógico para o jornalismo digital... Esta sim é uma verdadeira mudança, avassaladora!

        O mais assustador nestas transformações é saber que a mudança está em curso e não se vislumbra um prazo para que ela se apresente por inteiro, com começo, meio e fim! O terreno onde o jornalista atua hoje é movediço, traiçoeiro, fluido! Nada do que é hoje pode ser também amanhã!

        Mas vamos pensar um pouco: afinal, o que essencialmente mudou? O jornalista por acaso não é mais aquele profissional que capta uma informação, destila e a divulga? A resposta pode ser sim e ao mesmo tempo ser não!

        Ah, quer dizer que o jornalista também não é mais aquele que tem e cultiva fontes exclusivas? A resposta também pode ser sim e não!
        Afinal que diabo faz o jornalista nessa nova atmosfera na qual a internet introduziu as redes sociais, a interatividade, a possibilidade de transmissão de qualquer tipo de arquivo – leve, pesado, com documentos, sem documentos, com imagens estáticas, com imagens em movimento – e a possibilidade de acompanhar e captar, importar, compartilhar informações do mundo inteiro, em tempo diferido e em tempo real?

        Boa pergunta, mas sinto dizer que não sei respondê-la e acho improvável que exista no mundo alguém que tenha uma resposta plausível! O que vejo é o pipocar de zilhões de experimentos em toda parte, o que, diga-se de passagem, é algo extraordinário!

        No meio dessa tsunami de inovações e experimentos, o que eu faço? Experimento também, tateio, avanço, recuo, ouso não ouso, observo, sobretudo observo!

        A inflexibilidade soberana no analógico tem de dar lugar a uma condescendência responsável no digital, pois neste o mundo se abriu para a colaboração, para a provocação, para a análise, para o humor, para o desabafo! Basta dizer que somos, os jornalistas, produtores, divulgadores editores ou mesmo compartilhadores de informações!

        Nesses avanços e recuos proporcionados pelo que eu chamo de “nova atmosfera” temos grandes perdas e grandes ganhos; quando a internet liquida com os meios impressos e agora já ameaça acabar também com a TV aberta, perdemos!

        Quando a internet nos oferece mil canais de divulgação para as coisas que produzimos, ganhamos! Quando a internet nos permite acesso a informações qualificadas dos mais diferentes sites e blogs, também ganhamos – e muito! A certeza que aflora é que tudo vai piorar muito antes de voltar a melhorar !

        A internet, como eu já disse, é a grande maravilha do século XXI !

        Ainda hoje pela manhã ao ligar a TV e ser informado que o Reino Unido ainda não saiu da União Europeia, indignado, postei: “Vou dar prazo de uma semana... e se até lá o Reino Unido não tiver saído da União Europeia, vou lá e tiro no tapa!”

        Ganhei de leitores brasileiros inúmeros kkkkkkkkk e de minha sobrinha, a jornalista Fabiana Pio, que mora em Londres, uma frase enigmática: “Não faça isso, deixe assim !”

  
Rodrigo Mesquita liderou a introdução do Tempo Real no Brasil.



Fernando Henrique Cardoso previu o sucesso da Agência Estado




10/07/2017

Uber e moto, aliança explosiva!

Quero deixar claro, pra início de conversa, que este alerta não é contra o Uber, que eu considero uma das maravilhas da Internet! Este alerta é para as autoridades dos municípios de grande porte, com mais de cem mil habitantes, para que olhem com desdobrada atenção a entrada do Uber no mercado de entregas rápidas!

Tenham certeza de que, se nada for feito, assistiremos a partir de agora a um crescimento ainda mais vertiginoso dos acidentes com motos nas grandes cidades, a começar pela gigantesca malha da Grande São Paulo, onde o Uber já marca presença...

É preciso notar primeiro que os acidentes com motos são os que mais têm engordado as estatísticas de mortes no trânsito do Brasil nos últimos 15 anos. Só no período que vai de 1996 a 2011, o número de motociclistas mortos em acidentes no Brasil subiu 932,1%...

O aumento do número de acidentes envolvendo motos tem sido contínuo em todo o Brasil. Há algum tempo se fala em epidemia no trânsito brasileiro e as motos marcam forte presença em toda e qualquer estatística...

Os acidentes com motos mataram dez pessoas só nos três primeiros meses deste ano nas avenidas marginais de São Paulo, mas as estatísticas não mostram quantos desses condutores acidentados estavam ou não a serviço do Uber… A Sociedade vai demorar algum tempo para confirmar se o Uber tem contribuído – como é mais provável – para o aumento de acidentes com motos,  mas até lá pode ser tarde demais para que evitemos uma total degradação do controle sobre esse modal de transporte...

Meu raciocínio nasce da observação do que acontece  na Moto Lig, uma empresa que atua no mercado de entregas rápidas de São Paulo há nada menos de 30 anos...Pois é exatamente este – 30 anos – o tempo que ela passa sem registrar acidente com vítima fatal com sua frota de 100 motos.

Agora, pasmem ! A Moto Lig já chegou a passar 18 anos – eu disse de-zo-i-to-a-nos – sem registrar nenhum acidente, ne-nhum, nem leve, nem grave, com a sua frota de 100 condutores !

Qual o segredo da Moto Lig ? Simples: todos os seus motociclistas  são registrados em carteira, recebem o salário sem atraso, recebem as horas extras rigorosamente dento do combinado; têm direito a um plano de saúde, vale refeição e seguro de vida !

A contrapartida é uma só: respeitar as leis de trânsito e sobretudo aquela norma que estabelece que a moto deve ocupar o lugar de um carro em ruas e avenidas...

O dono da Moto Lig, Wander Antonio de Souza, fala com orgulho da  química que introduz para fazer da empresa um “case de sucesso” num mercado ultra competitivo como o da entrega rápida:

- Para fazer sucesso neste setor, é preciso tratar bem o colaborador, selecionar aqueles que realmente querem trabalhar para se sustentar com responsabilidade; pagar salários conforme manda a legislação da categoria, nunca atrasar  salários e benefícios;  e ainda  o tratamento diário com respeito e dignidade. Sempre valorizamos a nossa  equipe e nunca forçamos os nossos colaboradores  a fazer coisas impossíveis, arriscando a própria vida....

Já a informalidade é o grande mérito do Uber e é nisto que a meu ver mora o perigo no caso de aplicativos do gênero para motos...

A moto é muito mais perigosa que o carro pela simples razão de ter duas rodas a menos; no caso do Uber, motoristas e motociclistas não têm patrão ou ninguém que lhes faça qualquer tipo de exigência. Quem manda no Uber é o aplicativo.

Anoto aqui os cinco pontos que eu vejo como sérios problemas na introdução do Uber para motos:

1- Pelo Uber, quanto mais você trabalha, mais você ganha...a predominância do Uber virá com a predominância da pressa, quanto mais depressa eu entregar, mais eu ganho...essa competição de desesperados, que sempre existiu, será institucionalizada...

2- As condições de segurança da moto – desgaste de pneus, problemas de freios, equipamentos de segurança de passageiros e motociclistas – jamais serão observadas....O aplicativo, no caso dos carros, não faz exigências, a não ser as de quatro portas, ar condicionado e menos de cinco anos de uso do veículo...

3- Não existe empresa responsável pelo acidente...o único responsável será o condutor da moto...

4- O condutor não precisa ser dono da moto...pode cadastrar no aplicativo qualquer uma, emprestada, alugada ou roubada...

5- Não existe treinamento para condutores...no Uber, é cada um por si e Deus – ou o demônio – para todos...

Mas o que podem fazer as autoridades para prevenir o pior ? Embora eu não seja o que se pode chamar de especialista em Uber ou em trânsito, digo que é sim possível fazer muita coisa sem engessar o aplicativo...

Penso que certas exigências para cadastramento que já existem para algumas  categorias de aplicativos para carros – como a do atestado de antecedentes – devem ser obrigatórias para motos.

Creio também que deve ser proibido o cadastramento de motociclistas com menos de dois anos de experiência profissional e carteira de habilitação suja em excesso...




04/07/2017

Rio de lágrimas!

        Aconteceu no dia 30 de junho de 2017: ainda na barriga da mãe, um bebê foi atingido por uma bala perdida que lhe perfurou o tórax e uma das orelhas... Neste dia 04 de julho, permanecia internado em estado grave, ele que foi salvo por uma cirurgia de emergência...

        Onde foi isso? Foi na Vila Ideal, na Comunidade do Lixão, em Duque de Caxias. No estado do Rio de Janeiro...

        Tudo nesse caso nos leva a uma inflexão: o quanto já é aterradora a realidade deste Brasil Varonil por vários anos dominado por um punhado de ladrões e saqueadores!

        Vejam bem o local onde ocorreu essa tragédia: alguém tentava construir uma Vila Ideal numa comunidade nascida em torno de um lixão... É bem típico deste Brasil que ainda tenta escapar das garras dos bandidos e ladrões: confinam em favelas - e no entorno de lixões - milhares e milhares de famílias, obrigam-nas a participar do tráfico de drogas e promovem farta distribuição de balas perdidas... A coisa já chegou a tal ponto, que nem os bebês por nascer são mais poupados...

        Não será por mero acaso que os fatos tenham se dado no Rio de Janeiro, a vanguarda da putrefação de tudo – dos poderes constituídos, das instituições democráticas, da economia, do tecido social...

        O Rio de Janeiro hoje é uma Venezuela piorada... O Rio de Janeiro é uma síntese do que vai acontecer com todos os demais estados da Federação se o eleitor não tomar jeito depressa, em ritmo de emergência...

        Tenho pra mim que o ano de 2018 deverá ser decisivo para definirmos o Brasil que queremos: ou a renovação da base da política, sepultando grande parte das maçãs podres, ou a continuidade dessas práticas deletérias que evoluem para transformar toda a Nação em Venezuela ou no Rio de Janeiro...

        Quando digo “grande parte” penso na impossibilidade de fazermos a limpeza que deve ser feita num só pleito; penso numa quantidade de maçãs de tal modo reduzida que não teria força para contaminar o todo...

        Sei que isso que afirmo é  utópico! Mas tenho de acreditar que existe uma saída que não seja o Aeroporto de Cumbica...

Bebê atingido por uma bala perdida

Manifestações no Rio de Janeiro

Tiroteio no Rio de Janeiro

Caos no Rio de Janeiro